Thursday, August 19, 2004

Por quê, Alan Moore??

Em 1990, o Faith No More lançou o disco The Real Thing, que foi um sucesso em tudo que era rádio FM. Aí veio a turnê pelo mundo, Mike Patton & cia. perderam no Rock In Rio II o pouco juízo que tinham e o disco seguinte, Angel Dust, foi a negação de tudo que público e crítica esperavam deles. Chutaram o balde. Coisa parecida fez o Los Hermanos em 2001, quando o segundo disco, Bloco do Eu Sozinho, desfez e refez todos os fã-clubes da "banda da 'Anna Julia'".

Foi mais ou menos isso que eu senti quando li o segundo volume da Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O'Neill.

Tá boiando? Eu explico.

Em mais uma de suas idéias de gênio, Alan Moore jogou fora tudo que se imaginava em equipes de super-heróis e resolveu criar um grupo formado por alguns dos maiores ícones da literatura fantástica: Mina Murray (a mocinha de Drácula), Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão), Capitão Nemo (20.000 Léguas Submarinas), Hawley Griffin (O Homem Invisível) e Dr. Jekyll/Sr. Hyde (O Médico e o Monstro).

Nenhum deles obedece ao arquétipo do herói perfeito. Pelo contrário, cada um deles tem seus pequenos ou grandes defeitos e especialidades. Mina é a líder e cérebro, porém é autoritária e fria. Quatermain ainda é bom de briga, mas é viciado em ópio. Nemo nunca foge dos desafios e está sempre bem equipado, mas às vezes é impetuoso e obcecado. Griffin é invisível, amoral e muito imprevisível. O fraco Jekyll é tão inútil quanto Hyde é demasiadamente forte e selvagem.

Em comum, todos eram - e ainda são - personagens clássicos que surgiram praticamente na mesma época: a Europa do século 19. E é nessa época - meados de 1888 - em que as aventuras da Liga se passam. Como bom pesquisador e escritor que é, Moore pinta e borda nas referências à literatura, política e história da Inglaterra Vitoriana. Mas nem isso faz da Liga Extraordinária uma leitura só pra iniciados. Como nos filmes de Tarantino, as referências estão lá pra quem as conhece, mas o roteiro é simples o bastante para agradar por si só o leitor, leigo ou não.

No volume 1, lançado em meados de 1999-2000, o grupo é reunido pela Coroa Britânica para enfrentar um plano que representava uma ameaça à nação, e talvez para todo o mundo. Foram selecionados justamente por serem indivíduos à margem da sociedade, mas cujos poderes e habilidades os fariam capazes de aceitar o risco. Neste volume 2, a mesma Liga é novamente convocada para enfrentar algo ainda maior: uma invasão marciana - exato, é A Guerra dos Mundos de H. G. Wells revisitada.

Animado que estava para ler, imaginava algo no mesmo estilo "aventura" do volume 1. Oh, coitado de mim! Mesmo tendo tantas obras de Alan Moore antes, eu ainda não tinha aprendido a lição: o barbudo nunca repete a mesma fórmula. O choque foi inevitável.

Não querendo adiantar muito da história, mas tudo de mais radical acontece. Eu disse TUDO! Traições, vinganças, reviravoltas, mortes antológicas. Não sobra pedra sobre pedra. Ao final da leitura, fiquei sem reação. Como assim, acabou-se daquele jeito? Como é que Alan Moore faz isso comigo? Por que a história ficou tão do caralho, mas ainda assim eu estava triste pela forma que terminou? Por que eu me apeguei aos personagens? Por que Kevin O'Neill é tão foda nos desenhos? Por que as novas referências são tão legais? Por quê, por quê, por quê??

É foda.

P.S.: A edição brasileira da Devir está excelente.
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