Somebody saaaaaaave meeeee....
Smallville está fazendo uma pequena revolução no ramo do entretenimento e dos super-heróis.
Tá certo, seriado de TV não é quadrinho. Mas este aqui é baseado em quadrinho. E eu pretendo falar aqui sobre Smallville como ponto de partida de uma discussão maior, sobre dois fenômenos comuns nos quadrinhos de heróis: o desgaste e a cronologia.
Pra começar, aqui vai um resuminho de Smallville: esta série da TV a cabo da Warner Channel, sucesso de público e de crítica nos Estados Unidos, mostra a adolescência de Clark Kent, vulgo Super-Homem. Nela, o futuro Homem de Aço começa a passar por transformações físicas e descobrir seus poderes sobre-humanos, enquanto enfrenta as mesmas inquietações e conflitos vividos por outros jovens de sua idade.
A série é uma adaptação livre da origem do Super. O episódio-piloto mostra a nave que traz o bebê de outro planeta aterrissando na cidade de Smallville, onde moram os fazendeiros Jonathan e Martha Kent. Eles decidem assumir o risco de adotar o menino, ocultando de todos o fato dele ser extraterrestre. Já na adolescência, ele descobre que possui uma força além do comum, que o ajuda a salvar a vida de Lex Luthor (seu futuro inimigo na fase adulta) em um acidente de carro. O rapaz, filho do empresário corrupto e manipulador Lionel Luthor (de terno, na foto), nesta fase de sua vida ainda apresenta uma personalidade "do bem". Lex se torna amigo de Clark a partir do fato. O restante do elenco principal é composto pelos adolescentes Pete Ross, a aspirante a jornalista Chloe Sullivan (a galega) e Lana Lang (a morena). Essa última é a paixonite de Clark, que teme falar a verdade a ela sobre sua origem por conta dos riscos envolvidos.
O programa foi concebido pelos produtores Alfred Gough e Miles Millar para ser uma espécie de Dawson's Creek com superpoderes. "O coração da série é fazer Clark ser vulnerável", explica Millar, que diz que teve a aprovação da DC Comics para tomar toda a liberdade com a história. "Nós não queríamos fazer um Superboy, então por isso é que nós tiramos o paletó, a capa e o fato dele poder voar. Nós queríamos ver ele como uma pessoa real. É algo chato ser o Superman".
Voltando ao segundo parágrafo: por que essa série se tornou tão relevante a ponto de ser referência nos quesitos "desgaste" e "cronologia"?
O Super-Homem foi o marco inicial e sempre será o parâmetro-mor dos quadrinhos de super-heróis. O personagem existe há mais de 60 anos e ainda é um fenômeno de popularidade, um ícone máximo da cultura pop. Entretanto, esse mesmo sucesso sempre se volta contra ele. Não é nada fácil elaborar conceitos e detalhes novos para um personagem que já passou por tanta coisa. E ainda por cima trazer boa qualidade às histórias - sem desvirtuar demais o universo do herói - e manter a imensa base de fãs que ele possui. O maior exemplo do desgaste que ele vem sofrendo nos últimos anos foi o arco da sua morte e ressurreição, em meados de 1993. Quer mais apelação pra vender revista do que matar e ressuscitar o fulano?
Sobre a cronologia: havia um tempo em que cada história e cada tira tinha um começo, meio e fim. Aí Alex Raymond começou a fazer do seu Flash Gordon uma tira seriada, como uma novela dividida em capítulos. Aì viram que era algo divertido de se fazer e aplicaram aos super-heróis. Nada dessa história de acabar ali mesmo: vamos estender a trama para os fãs acompanharem. Rende mais lucros pra nóis, editores.
Há quem defenda o uso de cronologia porque ajuda a construir um universo sólido para o personagem e também rende histórias mais interessantes por terem maior grau de complexidade. E há quem ataque justamente essa complexidade cronológica. Oras, quem garante que o leitor vai querer acompanhar a revista pelo resto da vida? Ele tem dinheiro num dia, mas pode perder a mesada ou o emprego, aí meses depois compra um gibi e fica sem entender nada. Sem falar nos constantes erros e contradições de cronologia, que ocorrem quando a revista é escrita não pelo criador do personagem, mas por equipes rotativas que não tem como saber de tudo que já aconteceu na vida do personagem. Aliás, até tem. Mas são preguiçosos demais para pesquisar. Essas são veeeeeelhas histórias para quem já acompanhou uma HQ de super-herói durante um período de sua vida...
Devido à sua longevidade, o Super-Homem já passou pela mão de um monte de roteirista, cada um com uma visão diferente. Portanto, apesar de terem mantido muita coisa dos criadores Jerry Siegel e Joe Shuster, várias informações e características do herói já foram alteradas em maior ou menor grau. Inclusive a sua origem. Nos anos 80, a série Crise nas Infinitas Terras reformulou um monte de herói, inclusive o Azulão. Aí recentemente, a DC Comics já inventou de fazer uma nova origem com outras informações... enfim, tudo em nome do marketing, como falei há uns dois posts.
A tal "pequena revolução" de Smallville tem a ver com tudo isso. Quando ninguém mais achava que o Super renderia algo que prestasse, os produtores Alfred Gough e Miles Millar vieram com essa sacada. Era um grande risco, visto o fiasco da série anterior do Super, a funesta Lois e Clark. Mas a série surpreendeu fãs e não-fãs com um pensamento importantíssimo na cabeça: há de ter respeito à fonte (os quadrinhos), mas sem perder a noção jamais.
E como eles conseguiram isso? O próprio Millar respondeu em parte essa questão, ao dizer que queria fazer de Clark uma pessoa vulnerável e que pôde alterar a história em função do desenvolvimento da série. Mas tem mais sobre esse assunto no próximo capítulo. Olha aí eu apelando pra cronologia...
Tá certo, seriado de TV não é quadrinho. Mas este aqui é baseado em quadrinho. E eu pretendo falar aqui sobre Smallville como ponto de partida de uma discussão maior, sobre dois fenômenos comuns nos quadrinhos de heróis: o desgaste e a cronologia.
Pra começar, aqui vai um resuminho de Smallville: esta série da TV a cabo da Warner Channel, sucesso de público e de crítica nos Estados Unidos, mostra a adolescência de Clark Kent, vulgo Super-Homem. Nela, o futuro Homem de Aço começa a passar por transformações físicas e descobrir seus poderes sobre-humanos, enquanto enfrenta as mesmas inquietações e conflitos vividos por outros jovens de sua idade.
A série é uma adaptação livre da origem do Super. O episódio-piloto mostra a nave que traz o bebê de outro planeta aterrissando na cidade de Smallville, onde moram os fazendeiros Jonathan e Martha Kent. Eles decidem assumir o risco de adotar o menino, ocultando de todos o fato dele ser extraterrestre. Já na adolescência, ele descobre que possui uma força além do comum, que o ajuda a salvar a vida de Lex Luthor (seu futuro inimigo na fase adulta) em um acidente de carro. O rapaz, filho do empresário corrupto e manipulador Lionel Luthor (de terno, na foto), nesta fase de sua vida ainda apresenta uma personalidade "do bem". Lex se torna amigo de Clark a partir do fato. O restante do elenco principal é composto pelos adolescentes Pete Ross, a aspirante a jornalista Chloe Sullivan (a galega) e Lana Lang (a morena). Essa última é a paixonite de Clark, que teme falar a verdade a ela sobre sua origem por conta dos riscos envolvidos.
O programa foi concebido pelos produtores Alfred Gough e Miles Millar para ser uma espécie de Dawson's Creek com superpoderes. "O coração da série é fazer Clark ser vulnerável", explica Millar, que diz que teve a aprovação da DC Comics para tomar toda a liberdade com a história. "Nós não queríamos fazer um Superboy, então por isso é que nós tiramos o paletó, a capa e o fato dele poder voar. Nós queríamos ver ele como uma pessoa real. É algo chato ser o Superman".
Voltando ao segundo parágrafo: por que essa série se tornou tão relevante a ponto de ser referência nos quesitos "desgaste" e "cronologia"?
O Super-Homem foi o marco inicial e sempre será o parâmetro-mor dos quadrinhos de super-heróis. O personagem existe há mais de 60 anos e ainda é um fenômeno de popularidade, um ícone máximo da cultura pop. Entretanto, esse mesmo sucesso sempre se volta contra ele. Não é nada fácil elaborar conceitos e detalhes novos para um personagem que já passou por tanta coisa. E ainda por cima trazer boa qualidade às histórias - sem desvirtuar demais o universo do herói - e manter a imensa base de fãs que ele possui. O maior exemplo do desgaste que ele vem sofrendo nos últimos anos foi o arco da sua morte e ressurreição, em meados de 1993. Quer mais apelação pra vender revista do que matar e ressuscitar o fulano?
Sobre a cronologia: havia um tempo em que cada história e cada tira tinha um começo, meio e fim. Aí Alex Raymond começou a fazer do seu Flash Gordon uma tira seriada, como uma novela dividida em capítulos. Aì viram que era algo divertido de se fazer e aplicaram aos super-heróis. Nada dessa história de acabar ali mesmo: vamos estender a trama para os fãs acompanharem. Rende mais lucros pra nóis, editores.
Há quem defenda o uso de cronologia porque ajuda a construir um universo sólido para o personagem e também rende histórias mais interessantes por terem maior grau de complexidade. E há quem ataque justamente essa complexidade cronológica. Oras, quem garante que o leitor vai querer acompanhar a revista pelo resto da vida? Ele tem dinheiro num dia, mas pode perder a mesada ou o emprego, aí meses depois compra um gibi e fica sem entender nada. Sem falar nos constantes erros e contradições de cronologia, que ocorrem quando a revista é escrita não pelo criador do personagem, mas por equipes rotativas que não tem como saber de tudo que já aconteceu na vida do personagem. Aliás, até tem. Mas são preguiçosos demais para pesquisar. Essas são veeeeeelhas histórias para quem já acompanhou uma HQ de super-herói durante um período de sua vida...
Devido à sua longevidade, o Super-Homem já passou pela mão de um monte de roteirista, cada um com uma visão diferente. Portanto, apesar de terem mantido muita coisa dos criadores Jerry Siegel e Joe Shuster, várias informações e características do herói já foram alteradas em maior ou menor grau. Inclusive a sua origem. Nos anos 80, a série Crise nas Infinitas Terras reformulou um monte de herói, inclusive o Azulão. Aí recentemente, a DC Comics já inventou de fazer uma nova origem com outras informações... enfim, tudo em nome do marketing, como falei há uns dois posts.
A tal "pequena revolução" de Smallville tem a ver com tudo isso. Quando ninguém mais achava que o Super renderia algo que prestasse, os produtores Alfred Gough e Miles Millar vieram com essa sacada. Era um grande risco, visto o fiasco da série anterior do Super, a funesta Lois e Clark. Mas a série surpreendeu fãs e não-fãs com um pensamento importantíssimo na cabeça: há de ter respeito à fonte (os quadrinhos), mas sem perder a noção jamais.
E como eles conseguiram isso? O próprio Millar respondeu em parte essa questão, ao dizer que queria fazer de Clark uma pessoa vulnerável e que pôde alterar a história em função do desenvolvimento da série. Mas tem mais sobre esse assunto no próximo capítulo. Olha aí eu apelando pra cronologia...
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