....I've made this whole world shine for yoooou...
No capítulo anterior, nosso herói (eu) estava explicando que Smallville é muito legal porque respeita a fonte original - a origem do Super-homem nos quadrinhos - ao mesmo tempo em que cria elementos totalmente novos. Tudo embalado de uma forma que agrada a fãs e leigos, sem ofender a inteligência e bom gosto de ambos.
Desta forma, a série vem conseguindo criar um foco paralelo de resistência a dois dos maiores males dos quadrinhos norte-americanos: o desgaste e a cronologia. Ambos são doenças fatais para personagens que já passaram dos 30 anos; que dirá o Super, nos seus mais de 60. E aí? Como trazer idéias novas para o universo do personagem, e durante este processo, não ignorar o que outros roteiristas já definiram e consolidaram nas últimas seis décadas? E mais ainda: como conduzir esta tarefa ao mesmo tempo em que mantém os fãs antigos e tenta atrair novos?
Vamos ver o que Smallville tem feito quanto a isso.
O episódio-piloto traz como ponto de partida o momento em que o bebê de Krypton, Kal-El, chega à Terra em uma pequena nave. Quem assistiu o primeiro filme do Homem de Aço talvez lembre do casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent, que estavam por perto quando a nave aterrizou em Smallville. Encontram o pirralho, o levam dali e o adotam, dão-lhe o nome de Clark, blablabla. Enfim, essa seqüência ocorreu na série também. Mas o grande diferencial é que, na série, a vinda de Kal-El não afetou só a vida dos Kent.
Algumas das pessoas que terão algum papel na adolescência de Clark foram diretamente atingidas pelo acontecimento. Na verdade, a primeira sacada inteligente da série foi envolver a vinda da nave em uma chuva de meteoros, um fato novo no Superuniverso. O que isso provocou? O jovem Lex Luthor sofreu um trauma físico em um dos impactos das rochas: perdeu os cabelos e desde então ostenta a famosa carequinha. Já Lana Lang, o primeiro amor da vida de Clark, perdeu os pais porque um meteoro atingiu em cheio a casa onde eles estavam; o fato terá grande importância na formação da personalidade da garota.
Os meteoros puderam disfarçar melhor uma falha dos criadores do Super: ajudaram a ocultar a nave, que se tornou mais um entre muitos corpos estranhos vindos do espaço - e assim o governo não percebeu de cara que o acidente trouxe algo mais além de rochas verdes. E por fim, mas não menos importante: os tais meteoros nada mais eram do que fragmentos do solo de Krypton, que ao atravessarem o espaço até a Terra, adquiriram capacidades radioativas inéditas. Sim, estamos falando da famosa kryptonita, que além de desempenhar o seu clássico papel - ser a fraqueza-mor de Clark - ela trouxe à Terra uma radiação que gerou poderes em diversas pessoas da cidade. Com o tempo, estas se tornarão vilões dos episódios de Smallville, enfrentando Clark quase de igual pra igual. Outra inovação além-quadrinhos.
A primeira temporada já foi um grande sucesso. Os enredos eram bastante simplificados, fechados basicamente em Clark enfrentando algum habitante da cidade que adquiriu superpoder por causa dos meteoros. Em paralelo, vemos o surgimento dos superpoderes um a um - como a supervelocidade e visão de raio X - e o desenvolvimento da relação de Clark com Lana e Chloe - um triângulo amoroso, obviamente -, Pete Ross e Lex Luthor. Os novos atores caíram nas graças do público; Tom Welling possui traços físicos que lembram um Christopher Reeve de 18 anos, além do ar de timidez tão em moda hoje em dia no gosto feminino. A atuação de Michael Rosembaum faz com que fiquemos indecisos se confiamos ou não no futuro arquiinimigo do Azulão. Já Kristin Kreuk (Lana) e Allison Mack (Chloe) são muito lindas e, se não são lá uma Lauren Bacall, também estão longe de serem canastronas.
Além disso tudo, alguns membros da produção também são velhos conhecidos dos nerds: além do produtor David Nutter, temos Mat Beck nos efeitos especiais e Mark Snow na trilha sonora. Os três faziam parte da equipe de Arquivo X (dito isso, é justificável o clima dark de alguns episódios de Smallville).
Animados com o sucesso, os produtores e criadores da série, Alfred Gough e Miles Millar, puderam experimentar um pouco mais no segundo ano. Resolveram atender aos inúmeros pedidos dos leitores das HQs e os episódios se tornaram cada vez mais amarrados. As tramas começavam a dar sucessivas pistas do passado de Clark, como uma caverna cheia de inscrições e sinais misteriosos cravados em suas paredes. Destaque ainda para a emocionante aparição de Christopher Reeve como um astrólogo que explica a Clark a tradução destes códigos, dizendo a ele o nome de seu planeta natal (Krypton) e seu nome de batismo (Kal-El).
Dizem que o sucesso está nos detalhes, e com Smallville tem sido assim. Dois exemplos são os episódios "Red" e "Heat". O primeiro introduz a kryptonita vermelha, outro elemento da mitologia do herói. Pelo que eu lembro das HQs e do desenho Superamigos, ela tinha a capacidade de descontrolar e/ou distorcer os poderes do Super. Mas na série, ela o afeta psicologicamente, liberando todos os seus desejos reprimidos. Ou seja, com a pedra rubra, Clark vira um bad boy alucinado, louco para exibir seus poderes e agarrar garotas (!!). Já em "Heat", Clark descobre mais um superpoder - a visão de calor - durante uma aula de ciências, comendo com os olhos a professora boazuda! Uma metáfora da ejaculação, tal qual as teias de Peter Parker no filme do Homem-Aranha.
Nesta temporada, também é importante destacar o crescimento de Lionel Luthor - pai de Lex - como o vilão oficial da série, enquanto seu filho ainda está "bonzinho". Como Smallville tem ecos de Arquivo X, Lionel assume o papel do Canceroso: manipulador ao extremo, está sempre um passo à frente dos demais personagens e não hesita em preparar seu filho para ser tão ou mais inescrupuloso quanto ele. Além do mais, tanto o empresário quanto o carequinha estão atuando nos bastidores para descobrir a verdade sobre Clark Kent. Lex também conhece a médica Helen Bryce e com ela inicia um namoro que dá altamente errado (paro por aqui pra não estragar surpresas). Enfim, a relação de Lex Luthor com o pai e Helen são mais uma grande passo adiante, explorando um território que os quadrinhos quase não usaram - à exceção de uma graphic novel sobre Lex que recontou a origem do vilão, em meados dos anos 80.
Não tenho muito a falar da terceira e quarta temporadas. A terceira começou a passar recentemente no SBT (eu sou pobre e não tenho Warner Channel em casa) e do pouco que vi, é praticamente uma continuação do estilo da segunda. Ou seja, mais pistas da origem de Clark vindo por aí. Já a quarta tem ocupado meus temores mais íntimos. Lembram o que eu disse no outro texto? Há de ter respeito à fonte (os quadrinhos), mas sem perder a noção jamais. Mas parece que eles estão dispostos a perder essa noção, pois as últimas notícias têm informado que a jovem Lois Lane vai se tornar a nova coadjuvante da série. Ora, qualquer fã sabe que Lois só surge na vida do Super quando este já é um adulto morando em Metropolis. Se ainda existe Lana na série para ser a primeira namorada de Clark, é um absurdo antecipar tanto a entrada de Lois.
E não é só isso! Os caras vão trazer o jovem Flash para travar uma corrida com Clark. Tá, beleza. Outra boa notícia é que Margot Kidder, a Lois da cinessérie original, também fará participações especiais como a secretária do Dr. Swann (Christopher Reeve). Mas o mais esdrúxulo é que Mxyzptlk, o vilão mais escrachado do Super - aquele que vivia chamando ele de "Superbobo" nos Superamigos, também vai dar as caras! Pra terminar com uma boa notícia, parece que Clark finalmente vai adquirir o poder de voar.
***
O Super-Homem já foi Superboy, de uniforme e tudo, salvando Smallville com um supercachorro chamado Krypto. Depois os editores desistiram dessa versão tão demodé e optaram por lhe dar uma adolescência igual à que vimos em Smallville, no qual os poderes foram surgindo aos poucos, como na mudança de metabolismo de qualquer jovem. Lex já foi um cientista que era amigo do Superboy, e que tornou-se vilão após um acidente em seu laboratório que o fez perder os cabelos. A versão atual de Lex Luthor é a de um empresário que vê no Super a maior barreira entre ele e a extensão de seu poderio econômico e político.
O mais legal de Smallville é conseguir condensar todo esse balaio de gato das HQs de forma coesa e atrativa para todo mundo: desde a menina que sequer sabe a diferença entre Krypton e Gotham até o fanboy que decora o número de vezes em que Clark Kent trocou de roupa na cabine telefônica. A série tem lá seus vacilos, como algumas coisas meio inverossíveis nos roteiros - é um absurdo o número de vezes em que Clark usa seus poderes ao ar livre sem que ninguém note, por exemplo. Mas no geral, Smallville é mais um bom sinal de que é possível combinar inteligência e entretenimento sem precisar exatamente de uma cueca vermelha por cima da calça e um bordão desgastado.
No SBT, domingos, às 14h30.
Desta forma, a série vem conseguindo criar um foco paralelo de resistência a dois dos maiores males dos quadrinhos norte-americanos: o desgaste e a cronologia. Ambos são doenças fatais para personagens que já passaram dos 30 anos; que dirá o Super, nos seus mais de 60. E aí? Como trazer idéias novas para o universo do personagem, e durante este processo, não ignorar o que outros roteiristas já definiram e consolidaram nas últimas seis décadas? E mais ainda: como conduzir esta tarefa ao mesmo tempo em que mantém os fãs antigos e tenta atrair novos?
Vamos ver o que Smallville tem feito quanto a isso.
O episódio-piloto traz como ponto de partida o momento em que o bebê de Krypton, Kal-El, chega à Terra em uma pequena nave. Quem assistiu o primeiro filme do Homem de Aço talvez lembre do casal de fazendeiros, Jonathan e Martha Kent, que estavam por perto quando a nave aterrizou em Smallville. Encontram o pirralho, o levam dali e o adotam, dão-lhe o nome de Clark, blablabla. Enfim, essa seqüência ocorreu na série também. Mas o grande diferencial é que, na série, a vinda de Kal-El não afetou só a vida dos Kent.
Algumas das pessoas que terão algum papel na adolescência de Clark foram diretamente atingidas pelo acontecimento. Na verdade, a primeira sacada inteligente da série foi envolver a vinda da nave em uma chuva de meteoros, um fato novo no Superuniverso. O que isso provocou? O jovem Lex Luthor sofreu um trauma físico em um dos impactos das rochas: perdeu os cabelos e desde então ostenta a famosa carequinha. Já Lana Lang, o primeiro amor da vida de Clark, perdeu os pais porque um meteoro atingiu em cheio a casa onde eles estavam; o fato terá grande importância na formação da personalidade da garota.
Os meteoros puderam disfarçar melhor uma falha dos criadores do Super: ajudaram a ocultar a nave, que se tornou mais um entre muitos corpos estranhos vindos do espaço - e assim o governo não percebeu de cara que o acidente trouxe algo mais além de rochas verdes. E por fim, mas não menos importante: os tais meteoros nada mais eram do que fragmentos do solo de Krypton, que ao atravessarem o espaço até a Terra, adquiriram capacidades radioativas inéditas. Sim, estamos falando da famosa kryptonita, que além de desempenhar o seu clássico papel - ser a fraqueza-mor de Clark - ela trouxe à Terra uma radiação que gerou poderes em diversas pessoas da cidade. Com o tempo, estas se tornarão vilões dos episódios de Smallville, enfrentando Clark quase de igual pra igual. Outra inovação além-quadrinhos.
A primeira temporada já foi um grande sucesso. Os enredos eram bastante simplificados, fechados basicamente em Clark enfrentando algum habitante da cidade que adquiriu superpoder por causa dos meteoros. Em paralelo, vemos o surgimento dos superpoderes um a um - como a supervelocidade e visão de raio X - e o desenvolvimento da relação de Clark com Lana e Chloe - um triângulo amoroso, obviamente -, Pete Ross e Lex Luthor. Os novos atores caíram nas graças do público; Tom Welling possui traços físicos que lembram um Christopher Reeve de 18 anos, além do ar de timidez tão em moda hoje em dia no gosto feminino. A atuação de Michael Rosembaum faz com que fiquemos indecisos se confiamos ou não no futuro arquiinimigo do Azulão. Já Kristin Kreuk (Lana) e Allison Mack (Chloe) são muito lindas e, se não são lá uma Lauren Bacall, também estão longe de serem canastronas.
Além disso tudo, alguns membros da produção também são velhos conhecidos dos nerds: além do produtor David Nutter, temos Mat Beck nos efeitos especiais e Mark Snow na trilha sonora. Os três faziam parte da equipe de Arquivo X (dito isso, é justificável o clima dark de alguns episódios de Smallville).
Animados com o sucesso, os produtores e criadores da série, Alfred Gough e Miles Millar, puderam experimentar um pouco mais no segundo ano. Resolveram atender aos inúmeros pedidos dos leitores das HQs e os episódios se tornaram cada vez mais amarrados. As tramas começavam a dar sucessivas pistas do passado de Clark, como uma caverna cheia de inscrições e sinais misteriosos cravados em suas paredes. Destaque ainda para a emocionante aparição de Christopher Reeve como um astrólogo que explica a Clark a tradução destes códigos, dizendo a ele o nome de seu planeta natal (Krypton) e seu nome de batismo (Kal-El).
Dizem que o sucesso está nos detalhes, e com Smallville tem sido assim. Dois exemplos são os episódios "Red" e "Heat". O primeiro introduz a kryptonita vermelha, outro elemento da mitologia do herói. Pelo que eu lembro das HQs e do desenho Superamigos, ela tinha a capacidade de descontrolar e/ou distorcer os poderes do Super. Mas na série, ela o afeta psicologicamente, liberando todos os seus desejos reprimidos. Ou seja, com a pedra rubra, Clark vira um bad boy alucinado, louco para exibir seus poderes e agarrar garotas (!!). Já em "Heat", Clark descobre mais um superpoder - a visão de calor - durante uma aula de ciências, comendo com os olhos a professora boazuda! Uma metáfora da ejaculação, tal qual as teias de Peter Parker no filme do Homem-Aranha.
Nesta temporada, também é importante destacar o crescimento de Lionel Luthor - pai de Lex - como o vilão oficial da série, enquanto seu filho ainda está "bonzinho". Como Smallville tem ecos de Arquivo X, Lionel assume o papel do Canceroso: manipulador ao extremo, está sempre um passo à frente dos demais personagens e não hesita em preparar seu filho para ser tão ou mais inescrupuloso quanto ele. Além do mais, tanto o empresário quanto o carequinha estão atuando nos bastidores para descobrir a verdade sobre Clark Kent. Lex também conhece a médica Helen Bryce e com ela inicia um namoro que dá altamente errado (paro por aqui pra não estragar surpresas). Enfim, a relação de Lex Luthor com o pai e Helen são mais uma grande passo adiante, explorando um território que os quadrinhos quase não usaram - à exceção de uma graphic novel sobre Lex que recontou a origem do vilão, em meados dos anos 80.
Não tenho muito a falar da terceira e quarta temporadas. A terceira começou a passar recentemente no SBT (eu sou pobre e não tenho Warner Channel em casa) e do pouco que vi, é praticamente uma continuação do estilo da segunda. Ou seja, mais pistas da origem de Clark vindo por aí. Já a quarta tem ocupado meus temores mais íntimos. Lembram o que eu disse no outro texto? Há de ter respeito à fonte (os quadrinhos), mas sem perder a noção jamais. Mas parece que eles estão dispostos a perder essa noção, pois as últimas notícias têm informado que a jovem Lois Lane vai se tornar a nova coadjuvante da série. Ora, qualquer fã sabe que Lois só surge na vida do Super quando este já é um adulto morando em Metropolis. Se ainda existe Lana na série para ser a primeira namorada de Clark, é um absurdo antecipar tanto a entrada de Lois.
E não é só isso! Os caras vão trazer o jovem Flash para travar uma corrida com Clark. Tá, beleza. Outra boa notícia é que Margot Kidder, a Lois da cinessérie original, também fará participações especiais como a secretária do Dr. Swann (Christopher Reeve). Mas o mais esdrúxulo é que Mxyzptlk, o vilão mais escrachado do Super - aquele que vivia chamando ele de "Superbobo" nos Superamigos, também vai dar as caras! Pra terminar com uma boa notícia, parece que Clark finalmente vai adquirir o poder de voar.
***
O Super-Homem já foi Superboy, de uniforme e tudo, salvando Smallville com um supercachorro chamado Krypto. Depois os editores desistiram dessa versão tão demodé e optaram por lhe dar uma adolescência igual à que vimos em Smallville, no qual os poderes foram surgindo aos poucos, como na mudança de metabolismo de qualquer jovem. Lex já foi um cientista que era amigo do Superboy, e que tornou-se vilão após um acidente em seu laboratório que o fez perder os cabelos. A versão atual de Lex Luthor é a de um empresário que vê no Super a maior barreira entre ele e a extensão de seu poderio econômico e político.
O mais legal de Smallville é conseguir condensar todo esse balaio de gato das HQs de forma coesa e atrativa para todo mundo: desde a menina que sequer sabe a diferença entre Krypton e Gotham até o fanboy que decora o número de vezes em que Clark Kent trocou de roupa na cabine telefônica. A série tem lá seus vacilos, como algumas coisas meio inverossíveis nos roteiros - é um absurdo o número de vezes em que Clark usa seus poderes ao ar livre sem que ninguém note, por exemplo. Mas no geral, Smallville é mais um bom sinal de que é possível combinar inteligência e entretenimento sem precisar exatamente de uma cueca vermelha por cima da calça e um bordão desgastado.
No SBT, domingos, às 14h30.
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