Sunday, January 23, 2005

Enquanto eu crio coragem pra voltar a escrever de vera aqui, uma enquetezinha simples:

Qual seu quadrinhista favorito? E por que é o favorito?

Saturday, January 15, 2005

A tal entrevista

Ela foi bem direcionada para questões ligadas a quadrinhos e jornalismo, pra ter a ver com o meu projeto de conclusão de curso. Mas relendo-a agora, até que ficou uma entrevista interessante e um pouco diferente do que ele costuma responder em entrevistas.

Outra coisa que esqueci de comentar: na mesma época, maio de 2001, Neil Gaiman veio ao Brasil - São Paulo, no caso. Consegui lançar umas perguntas pra ele em um chat que ele foi o convidado. Uma delas foi esta aqui:

Márcio: Aqui em Recife vamos ter um festival de humor e quadrinhos, inclusive com a presença de Will Eisner. Você não gostaria de aproveitar sua vinda ao Brasil pra passar por aqui? Começa na semana que vem.

21:25:06 - Neil Gaiman fala para Marcio: Um pouco tarde agora! Eu vi Will Eisner em março e nós falamos que iámos estar no Brasil ao mesmo tempo no fim de maio. Eu acho engraçado que estamos em lugares diferentes. Seja bom para Will, ele é o último das lendas que ainda anda pela Terra.

Ele foi melhor pra mim do que eu devo ter sido pra ele, Mr. Gaiman. Segue agora a tal entrevista. Sim, ficou bem curta.


1) Em suas graphic novels, o sr. conseguiu explorar novas formas de contar histórias reais nos quadrinhos. Qual seria a sua opinião quanto ao potencial das HQs enquanto documentário?

Will Eisner - O que costumo fazer é narrar os fatos de forma realista, como se eu estivesse lá. Por exemplo, se eu vejo um cara desmaiado no chão, eu pergunto: "por que este cara desmaiou? Qual a razão disso?" e explico isso na história. Essa é apenas uma das formas. Outro amigo meu, Joe Sacco (n.e.: criador da HQ Palestina, ganhadora do prêmio Pulitzer em 2000), relatou fatos sobre Sarajevo de outra forma. Defino o meu estilo como realista, mas não moralista.

2) Quais são as virtudes e fraquezas dos quadrinhos enquanto mídia?

Will Eisner - O que diferencia os quadrinhos de um filme é que você assiste a um filme como a uma partida de futebol, como se fosse uma forma artificial de vida. Na arte seqüencial, o leitor é participante, há uma troca inteligente e interligada de informações. O ponto fraco da arte seqüencial é não ter sons, mas mesmo assim, este é embutido. Então, peço ao leitor que traga suas próprias experiências da vida real, como os sons, e que jogue isso na realidade a qual estou falando na história.

3) Os quadrinhos chegaram à sua maturidade?

Will Eisner - Sim, pelo que estou vendo, agora existe um reconhecimento de conteúdo, e isso é realmente a coisa mais importante. Os leitores estão ficando mais velhos, são pessoas que não ficam satisfeitos com histórias de super-heróis. Querem algo sobre a sua realidade. Eu espero por esse momento há 25 anos. E as pessoas que estão trabalhando no meio estão mais sofisticadas, estão reconhecendo e sendo reconhecidas.

4) O sr. acompanhou o surgimento e crescimento das tiras de jornais. Poderia explicar a relação dos quadrinhos com a grande imprensa?

Will Eisner - Os jornais e quadrinhos são veículos de transmissão em massa, como a TV. No começo dos anos 30, os quadrinhos estavam surgindo e os jornais não precisavam necessariamente de quadrinhos para vender. Hoje, os jornais lutam por espaço contra a Internet. Nisso tudo existe uma relação. Essas voltas acontecem porque estes meios possuem laços com as relações sociais do cotidiano.

Wednesday, January 05, 2005

Will



Impossível fugir do clichê: esse é um daqueles textos que as palavras não vão bastar. Não conseguirão explicar o que se sente ao saber que alguém como Will Eisner não está mais entre nós.

Eu iria começar com uma longa descrição de quem é ele, principais trabalhos, qual é a sua importância nos quadrinhos, etc. Mas acho melhor passar a bola pra quem já fez isso, e muito melhor do que eu faria. Cliquem aqui e leiam com carinho.

Will Eisner passou cerca de três dias no Recife, em maio de 2001. A mihna expectativa era imensa e um tanto desconexa. Imensa porque pelo meu conhecimento, eu já sabia que se tratava de uma das maiores (se não "a maior") lendas vivas dos quadrinhos. Desconexa porque não deixava de ser estranho eu ter tanta expectativa por um artista pelo qual eu conhecia apenas um trabalho: a autobiografia No Coração da Tempestade, que li emprestado. Enfim, até antes da visita dele, Will Eisner era, na minha cabeça, tudo e nada ao mesmo tempo.

Portanto, eu realmente não sabia o que esperar dele, o que aumentava a minha expectativa. Some isso ao fato de que eu estava prestes a me formar em Jornalismo e meu projeto de conclusão era uma história em quadrinhos. Pensei em aproveitar a vinda de Eisner à cidade para pegar uma pequena entrevista e usá-la como parte do meu material na defesa do projeto. Ao mesmo tempo, teria a oportunidade de conversar sobre quadrinhos com uma pessoa que é referência absoluta no assunto.

O primeiro contato foi na tarde de uma segunda-feira. Carol Almeida, que era minha colega de trabalho na época, foi pra entrevista coletiva com ele e implorei à minha chefe pra eu "escapar" do trabalho e ir junto. Estando lá, ele chega bem sorridente, do alto de seus 83 anos na época, e responde tudo na maior simpatia. Dia seguinte, abertura do Festival de Quadrinhos, mesma coisa. Falava com todo mundo, todo mundo mesmo. Lailson não descolava dele um segundo, e com toda razão, pois a última coisa que ele queria era ver um dos maiores mestres das HQs - e amigo pessoal dele - voltar pro seu país ofendido ou queixoso do que quer que fosse.

Foi nesse dia, pouco antes da abertura, que cheguei cedo pra falar com ele. Aproveitei a espera e comprei nos quiosques o livro novo dele na época, O Último Dia no Vietnã. Aí vi que era pouco. Comprei uma coletânea de Spirit, Um Contrato com Deus e O Edifício. Ele chegou. Lailson liberou, e por dez minutos consegui, numa boa, a entrevista e autógrafos em todos os álbuns. Depois, na mesma noite, sucumbi à tietagem e tirei a foto que está no início deste post.

Na quarta-feira, o dia onde ele estaria à disposição do público do festival pra responder perguntas, foi tudo normal - Yellow já narrou essa parte no blog dele. Na verdade, talvez tenha sido nesse dia que ele autografou os álbuns, antes do debate. Agora não lembro mais. Sei que foi tudo muito rápido. Foram os três dias em que conheci, conversei, estive lado a lado com uma lenda.

Olhando para trás, a sensação de deslumbramento não diminuiu. Pelo contrário. O relato acima parece uma babação de ovo por um cara que poderia ter sido qualquer famoso. Mas conheci outros feras dos quadrinhos em outras edições do festival e cheguei a me decepcionar com eles. Não foi assim - e continua não sendo - com Will Eisner. Acima do mito, vi que era um senhor de extrema alegria, empolgação e dedicação, que respeita as pessoas tanto quanto estas lhes respeitam. Eu já disse e repito: eu queria ter sido neto dele.


Este post é obviamente dedicado a ele, mas também a outro mestre, Lailson, por ter trazido até mim a oportunidade de conhecer Will. Se é que tenho essa intimidade para chamá-lo de Will.


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