Impossível fugir do clichê: esse é um daqueles textos que as palavras não vão bastar. Não conseguirão explicar o que se sente ao saber que alguém como Will Eisner não está mais entre nós.
Eu iria começar com uma longa descrição de quem é ele, principais trabalhos, qual é a sua importância nos quadrinhos, etc. Mas acho melhor passar a bola pra quem já fez isso, e muito melhor do que eu faria. Cliquem
aqui e leiam com carinho.
Will Eisner passou cerca de três dias no Recife, em maio de 2001. A mihna expectativa era imensa e um tanto desconexa. Imensa porque pelo meu conhecimento, eu já sabia que se tratava de uma das maiores (se não "a maior") lendas vivas dos quadrinhos. Desconexa porque não deixava de ser estranho eu ter tanta expectativa por um artista pelo qual eu conhecia apenas um trabalho: a autobiografia
No Coração da Tempestade, que li emprestado. Enfim, até antes da visita dele, Will Eisner era, na minha cabeça, tudo e nada ao mesmo tempo.
Portanto, eu realmente não sabia o que esperar dele, o que aumentava a minha expectativa. Some isso ao fato de que eu estava prestes a me formar em Jornalismo e meu projeto de conclusão era uma história em quadrinhos. Pensei em aproveitar a vinda de Eisner à cidade para pegar uma pequena entrevista e usá-la como parte do meu material na defesa do projeto. Ao mesmo tempo, teria a oportunidade de conversar sobre quadrinhos com uma pessoa que é referência absoluta no assunto.
O primeiro contato foi na tarde de uma segunda-feira. Carol Almeida, que era minha colega de trabalho na época, foi pra entrevista coletiva com ele e implorei à minha chefe pra eu "escapar" do trabalho e ir junto. Estando lá, ele chega bem sorridente, do alto de seus 83 anos na época, e responde tudo na maior simpatia. Dia seguinte, abertura do Festival de Quadrinhos, mesma coisa. Falava com todo mundo, todo mundo mesmo. Lailson não descolava dele um segundo, e com toda razão, pois a última coisa que ele queria era ver um dos maiores mestres das HQs - e amigo pessoal dele - voltar pro seu país ofendido ou queixoso do que quer que fosse.
Foi nesse dia, pouco antes da abertura, que cheguei cedo pra falar com ele. Aproveitei a espera e comprei nos quiosques o livro novo dele na época,
O Último Dia no Vietnã. Aí vi que era pouco. Comprei uma coletânea de Spirit,
Um Contrato com Deus e
O Edifício. Ele chegou. Lailson liberou, e por dez minutos consegui, numa boa, a entrevista e autógrafos em todos os álbuns. Depois, na mesma noite, sucumbi à tietagem e tirei a foto que está no início deste post.
Na quarta-feira, o dia onde ele estaria à disposição do público do festival pra responder perguntas, foi tudo normal - Yellow já narrou essa parte no
blog dele. Na verdade, talvez tenha sido nesse dia que ele autografou os álbuns, antes do debate. Agora não lembro mais. Sei que foi tudo muito rápido. Foram os três dias em que conheci, conversei, estive lado a lado com uma lenda.
Olhando para trás, a sensação de deslumbramento não diminuiu. Pelo contrário. O relato acima parece uma babação de ovo por um cara que poderia ter sido qualquer famoso. Mas conheci outros feras dos quadrinhos em outras edições do festival e cheguei a me decepcionar com eles. Não foi assim - e continua não sendo - com Will Eisner. Acima do mito, vi que era um senhor de extrema alegria, empolgação e dedicação, que respeita as pessoas tanto quanto estas lhes respeitam. Eu já disse e repito: eu queria ter sido neto dele.
Este post é obviamente dedicado a ele, mas também a outro mestre, Lailson, por ter trazido até mim a oportunidade de conhecer Will. Se é que tenho essa intimidade para chamá-lo de Will.