Sunday, March 06, 2005

Ele não usa pistola em forma de cruz

Esse NÃO É John Constantine.



É esse aqui.



Na primeira metade da década de 80, o britânico Alan Moore começava a chamar a atenção da crítica e público quando roteirizava a revista do Monstro do Pântano, um personagem de segunda categoria da DC Comics que, nas mãos de Moore, virou um sucesso de vendas. Surgido como um coadjuvante do Monstro do Pântano, o mago John Constantine (com visual inspirado em Sting) foi aos poucos revelando potencial para uma "carreira solo". Anos depois, ganhou sua própria revista, com o título Hellblazer e lançada pelo linha de HQs adultas da DC, a Vertigo. O universo e origem de John cresceram ainda mais com os roteiristas que vieram depois, como Jaime Delano e Garth Ennis.

Nascido em Liverpool, John (Constantine, não o Lennon) é descendente de uma família que lida com magia há várias gerações. Entretanto, foi apenas na adolescência que ele descobriu sua "vocação". Na época, John ouvia punk rock - teve uma banda chamada Membrana Mucosa (!) - e se unia a outros junkies para, além do sexo e drogas, tentar umas incursões em magia negra.

Numa visita a Newcastle, John e seus amigos foram a uma casa abandonada tentar invocar entidades e coisas do tipo. Encontraram uns cadáveres e uma menina assustada que estava fugindo do demônio que matou aquelas pessoas. Por ser jovem, John era impetuoso e inconseqüente. Quis dar uma de herói e realizou um ritual para entrentar o monstro, que desafiou Constantine dentro do inferno. Pra encurtar a história, deu tudo errado e muita gente morreu de graça.

O fato teve grande repercussão na vida do futuro mago. Quem não morreu aquela noite, morreu depois ou enlouqueceu, inclusive o próprio John. Passou dois anos no manicômio. Achando pouco, John Constantine não só continuou suas aventuras pelo sobrenatural como deixou pra trás uma coleção de inimigos, tanto na Terra quando no Céu e no inferno. Além do conhecimento sobre magia, suas principais armas são a sua arrogância, um cinismo tipicamente britânico e porralouquice desenfreada.

Outra marca registrada é o seu vício pelo cigarro, que lhe rendeu outra lenda: ao adquirir um câncer terminal no pulmão, ficou à beira da morte e bastante preocupado com o que o diabo iria aprontar com a alma dele. Poucos dias antes de sua morte, John salvou a alma de outro amigo ao trapacear com o tinhoso, que obviamente ficou cego de raiva e louco por vingança. Não vou falar como John se salvou, para não estragar a surpresa de quem um dia ler essa história - que por sinal, será abordada no filme. Só posso dizer que o final é, no mínimo, uma das coisas mais sensacionais que já li em matéria de quadrinhos. E duvido muito que o filme honre o original.

Ele saca muito de magia, mas não é nenhum Harry Potter. Na verdade, ele vive afirmando que não tem poderes nem nada do tipo. "Eu não sou sensitivo, sou esperto paca. Só isso" e "Magia é assim: só funciona quando você acredita nela" são alguns de seus bordões. Quem acompanha a vida dele sabe: ele usa muito mais o cérebro pra vencer do que o hocus-pocus.

John Constantine já deu dedada para o Inferno, mandou o arcanjo Gabriel tomar no cu, escapou de ser estuprado por um padre, rejeitou proposta de se tornar imortal e ainda arranja tempo para sacanear seus próprios amigos, seja de propósito ou sem querer. Constantine é, em suma, um grande filho da puta fadado a viver na roubada. Um dos maiores e mais carismáticos filhos da puta da história da arte seqüencial. E se você ver o filme com Keanu Reeves, de cabelo preto, morando em Los Angeles e usando uma arma maluca em forma de cruz, não se esqueça de que aquele lá não é John Constantine. Se o filme for só um pouco bom, o que eu acho difícil, já é lucro.

Mais sobre ele aqui: Hellblazer Brasil.
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