Saturday, January 15, 2005

A tal entrevista

Ela foi bem direcionada para questões ligadas a quadrinhos e jornalismo, pra ter a ver com o meu projeto de conclusão de curso. Mas relendo-a agora, até que ficou uma entrevista interessante e um pouco diferente do que ele costuma responder em entrevistas.

Outra coisa que esqueci de comentar: na mesma época, maio de 2001, Neil Gaiman veio ao Brasil - São Paulo, no caso. Consegui lançar umas perguntas pra ele em um chat que ele foi o convidado. Uma delas foi esta aqui:

Márcio: Aqui em Recife vamos ter um festival de humor e quadrinhos, inclusive com a presença de Will Eisner. Você não gostaria de aproveitar sua vinda ao Brasil pra passar por aqui? Começa na semana que vem.

21:25:06 - Neil Gaiman fala para Marcio: Um pouco tarde agora! Eu vi Will Eisner em março e nós falamos que iámos estar no Brasil ao mesmo tempo no fim de maio. Eu acho engraçado que estamos em lugares diferentes. Seja bom para Will, ele é o último das lendas que ainda anda pela Terra.

Ele foi melhor pra mim do que eu devo ter sido pra ele, Mr. Gaiman. Segue agora a tal entrevista. Sim, ficou bem curta.


1) Em suas graphic novels, o sr. conseguiu explorar novas formas de contar histórias reais nos quadrinhos. Qual seria a sua opinião quanto ao potencial das HQs enquanto documentário?

Will Eisner - O que costumo fazer é narrar os fatos de forma realista, como se eu estivesse lá. Por exemplo, se eu vejo um cara desmaiado no chão, eu pergunto: "por que este cara desmaiou? Qual a razão disso?" e explico isso na história. Essa é apenas uma das formas. Outro amigo meu, Joe Sacco (n.e.: criador da HQ Palestina, ganhadora do prêmio Pulitzer em 2000), relatou fatos sobre Sarajevo de outra forma. Defino o meu estilo como realista, mas não moralista.

2) Quais são as virtudes e fraquezas dos quadrinhos enquanto mídia?

Will Eisner - O que diferencia os quadrinhos de um filme é que você assiste a um filme como a uma partida de futebol, como se fosse uma forma artificial de vida. Na arte seqüencial, o leitor é participante, há uma troca inteligente e interligada de informações. O ponto fraco da arte seqüencial é não ter sons, mas mesmo assim, este é embutido. Então, peço ao leitor que traga suas próprias experiências da vida real, como os sons, e que jogue isso na realidade a qual estou falando na história.

3) Os quadrinhos chegaram à sua maturidade?

Will Eisner - Sim, pelo que estou vendo, agora existe um reconhecimento de conteúdo, e isso é realmente a coisa mais importante. Os leitores estão ficando mais velhos, são pessoas que não ficam satisfeitos com histórias de super-heróis. Querem algo sobre a sua realidade. Eu espero por esse momento há 25 anos. E as pessoas que estão trabalhando no meio estão mais sofisticadas, estão reconhecendo e sendo reconhecidas.

4) O sr. acompanhou o surgimento e crescimento das tiras de jornais. Poderia explicar a relação dos quadrinhos com a grande imprensa?

Will Eisner - Os jornais e quadrinhos são veículos de transmissão em massa, como a TV. No começo dos anos 30, os quadrinhos estavam surgindo e os jornais não precisavam necessariamente de quadrinhos para vender. Hoje, os jornais lutam por espaço contra a Internet. Nisso tudo existe uma relação. Essas voltas acontecem porque estes meios possuem laços com as relações sociais do cotidiano.
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