Ok, ele está moreno, mas ainda é um escroto
Bem, eu assisti Constantine. Saí da sessão fervilhando de opiniões e como ninguém estava por perto pra ouvi-las - e mesmo que estivessem, acho que não teriam saco pra tanto - achei necessário expor aqui pra desafogar meu cérebro de ervilha.
Por bem ou por mal, Constantine entrou na mesma categoria dos dois Batman de Tim Burton: ótimos enquanto filmes, péssimos enquanto adaptações de quadrinhos. Esse tipo de produção tem como vantagem o fato de trazer para o cinema um público que nunca leu ou dificilmente vai ler um gibi do personagem. Essa galera tá se lixando se o cara era loiro ou negão; "aquele" Constantine-Keanu Reeves é o Constantine que ele vai conhecer a partir de agora, e foda-se. E se o filme é bom (entenda "bom" como divertido, instigante, blablabla), foda-se duplamente. E se os produtores conseguiram o lucro esperado, foda-se ao cubo.
Outro grande mérito de um filme assim é a ousadia. Tá certo que o esquema "uma-versão-livre-da-HQ" é mera desculpa de preguiçoso, mas onde está escrito que tem que ser uma versão fiel? Um tanto de liberdade artística não faz mal a ninguém. Eu acho engraçado a milícia nerd se revoltar com coisas como a cor do cabelo - e sim, confesso que caricaturizei propositadamente minha opinião no texto anterior, ora pra tirar onda, ora pra extravasar minha desconfiança.
Eu comparei Constantine aos dois primeiros Batman, não foi? Só que, na minha opinião, se compararmos os virtudes e defeitos dos filmes de Burton, as virtudes pesam um pouquinho mais. No filme do mago, a balança ficou exatamente no meio. Pra cada cena ou sacada fuderosa, havia uma sacanagem na mesma proporção. E assim fiquei, feliz e puto ao mesmo tempo.
John Keanu Constantine Reeves é moreno e tem cara de menino (ponto negativo). Mas tem jeito blasé e abusado (positivo - ok, tem a ver com a inexpressividade de Reeves, mas passa). Ele não tem o sobretudo comprido e amassado (negativo) mas tem um terno preto estiloso e que, vá lá, lembra um pouco o sobretudo (positivo). A história troca Londres por Los Angeles (negativo), o roteiro tem um monte de buraco (negativo) e o texto de John não tem um décimo do cinismo inglês da HQ (negativíssimo). Tipo, para cada fala boa ("bem-vindo ao meu mundo", botando fumaça de cigarro no copo com o inseto) tinha uma fala merda ("o diabo acredita em você"). Pelo menos na maior parte do tempo ele fala pouco ou fica calado (positivo, levando em conta as circunstâncias). Chas é um PIRRAIA (negativo!!!) que é SIDEKICK de John (aaaaargh!). Papa Meia-Noite, até onde eu sei, é um feladaputa que nunca ajudaria John sem nada em troca, como aconteceu no filme (negativo). E aquelas "armas mágicas" e o carinha estilo Q de 007 versão freak e as cenas de ação contra os demônios no prédio (negativo, negativo, negativo...). John suicida? (negativo) e com o dom de "see dead people"?? (n-e-g-a-t-i-v-o).
Notem que grande parte dos negativos surgem a partir da comparação com os quadrinhos. Agora falemos do filme pelo filme: a direção se garantiu (positivo), sobretudo na cena do exorcismo (fuderosa!). A atmosfera do filme é hardcore como deveria ser e tem toda a cara da Vertigo, sobretudo das histórias de Jaime Delano (positivíssimo). Rachel Weisz foi uma coadjuvante muito acima da média, mesmo em comparação aos filmes "não-quadrinhos" (positivo). As cenas de John com aqueles lances com água, banheira e o gato têm uma tensão incrível (positivo). Tilda Swinton também se garantiu como Gabriel (positivo), mas Peter Stormare e Gavin Rossdale foram muito aquém (negativo), o que enfraqueceu o lado malvado do elenco. E apesar de ter usado e alterado muitos elementos sortidos do arco Hábitos Perigosos de Garth Ennis, como o câncer no pulmão e a conversa com Gabriel, o desfecho dessa trama paralela é bem diferente do da HQ e surpresa!, não foi uma solução tão ruim assim! (Os puristas vão discordar, mas opinião é que nem cu e tal). Teve a tiradinha final com as pastilhas (negativo, sem graça) e a cena no fim dos créditos (negativo; desnecessária, idiota).
Teve um fato positivo que chamou tanto a minha atenção que reservei um parágrafo só pra isso. Desde X-Men, ou seja, desde que a moda HQ-cinema retornou com a porra, há cinco anos. Foi a primeira, primeiríssima vez, que uma adaptação de quadrinhos dessa leva me revelou uma boa descoberta musical na trilha sonora: "Take Five", do Dave Brubeck Quartet, canção que é também a trilha sonora deste texto.
O que mais me chateou em todo o filme é que muitas das alterações em relação à HQ foram completamente desnecessárias. Custava Keanu Reeves pintar o cabelo de loiro? Até parecido ele ficava. Custava o filme ser em Londres? Ficava mais caro, é isso? Tirava uma ou outra cena cara de efeito especial e pagava a passagem, ficando só com as cenas com água, que são em conta e mais interessantes. Custava John ser um punk metido a mago em vez de ser um sujeito com um dom de ver os espíritos? Enfim, a que custo deixar muitos fãs da HQ chateados e decepcionados, se boa parte dessas mudanças não fariam diferença pro público leigo?
É isso. Quem aí tá pronto pra ver, achar massa e odiar Sin City?
Por bem ou por mal, Constantine entrou na mesma categoria dos dois Batman de Tim Burton: ótimos enquanto filmes, péssimos enquanto adaptações de quadrinhos. Esse tipo de produção tem como vantagem o fato de trazer para o cinema um público que nunca leu ou dificilmente vai ler um gibi do personagem. Essa galera tá se lixando se o cara era loiro ou negão; "aquele" Constantine-Keanu Reeves é o Constantine que ele vai conhecer a partir de agora, e foda-se. E se o filme é bom (entenda "bom" como divertido, instigante, blablabla), foda-se duplamente. E se os produtores conseguiram o lucro esperado, foda-se ao cubo.
Outro grande mérito de um filme assim é a ousadia. Tá certo que o esquema "uma-versão-livre-da-HQ" é mera desculpa de preguiçoso, mas onde está escrito que tem que ser uma versão fiel? Um tanto de liberdade artística não faz mal a ninguém. Eu acho engraçado a milícia nerd se revoltar com coisas como a cor do cabelo - e sim, confesso que caricaturizei propositadamente minha opinião no texto anterior, ora pra tirar onda, ora pra extravasar minha desconfiança.
Eu comparei Constantine aos dois primeiros Batman, não foi? Só que, na minha opinião, se compararmos os virtudes e defeitos dos filmes de Burton, as virtudes pesam um pouquinho mais. No filme do mago, a balança ficou exatamente no meio. Pra cada cena ou sacada fuderosa, havia uma sacanagem na mesma proporção. E assim fiquei, feliz e puto ao mesmo tempo.
John Keanu Constantine Reeves é moreno e tem cara de menino (ponto negativo). Mas tem jeito blasé e abusado (positivo - ok, tem a ver com a inexpressividade de Reeves, mas passa). Ele não tem o sobretudo comprido e amassado (negativo) mas tem um terno preto estiloso e que, vá lá, lembra um pouco o sobretudo (positivo). A história troca Londres por Los Angeles (negativo), o roteiro tem um monte de buraco (negativo) e o texto de John não tem um décimo do cinismo inglês da HQ (negativíssimo). Tipo, para cada fala boa ("bem-vindo ao meu mundo", botando fumaça de cigarro no copo com o inseto) tinha uma fala merda ("o diabo acredita em você"). Pelo menos na maior parte do tempo ele fala pouco ou fica calado (positivo, levando em conta as circunstâncias). Chas é um PIRRAIA (negativo!!!) que é SIDEKICK de John (aaaaargh!). Papa Meia-Noite, até onde eu sei, é um feladaputa que nunca ajudaria John sem nada em troca, como aconteceu no filme (negativo). E aquelas "armas mágicas" e o carinha estilo Q de 007 versão freak e as cenas de ação contra os demônios no prédio (negativo, negativo, negativo...). John suicida? (negativo) e com o dom de "see dead people"?? (n-e-g-a-t-i-v-o).
Notem que grande parte dos negativos surgem a partir da comparação com os quadrinhos. Agora falemos do filme pelo filme: a direção se garantiu (positivo), sobretudo na cena do exorcismo (fuderosa!). A atmosfera do filme é hardcore como deveria ser e tem toda a cara da Vertigo, sobretudo das histórias de Jaime Delano (positivíssimo). Rachel Weisz foi uma coadjuvante muito acima da média, mesmo em comparação aos filmes "não-quadrinhos" (positivo). As cenas de John com aqueles lances com água, banheira e o gato têm uma tensão incrível (positivo). Tilda Swinton também se garantiu como Gabriel (positivo), mas Peter Stormare e Gavin Rossdale foram muito aquém (negativo), o que enfraqueceu o lado malvado do elenco. E apesar de ter usado e alterado muitos elementos sortidos do arco Hábitos Perigosos de Garth Ennis, como o câncer no pulmão e a conversa com Gabriel, o desfecho dessa trama paralela é bem diferente do da HQ e surpresa!, não foi uma solução tão ruim assim! (Os puristas vão discordar, mas opinião é que nem cu e tal). Teve a tiradinha final com as pastilhas (negativo, sem graça) e a cena no fim dos créditos (negativo; desnecessária, idiota).
Teve um fato positivo que chamou tanto a minha atenção que reservei um parágrafo só pra isso. Desde X-Men, ou seja, desde que a moda HQ-cinema retornou com a porra, há cinco anos. Foi a primeira, primeiríssima vez, que uma adaptação de quadrinhos dessa leva me revelou uma boa descoberta musical na trilha sonora: "Take Five", do Dave Brubeck Quartet, canção que é também a trilha sonora deste texto.
O que mais me chateou em todo o filme é que muitas das alterações em relação à HQ foram completamente desnecessárias. Custava Keanu Reeves pintar o cabelo de loiro? Até parecido ele ficava. Custava o filme ser em Londres? Ficava mais caro, é isso? Tirava uma ou outra cena cara de efeito especial e pagava a passagem, ficando só com as cenas com água, que são em conta e mais interessantes. Custava John ser um punk metido a mago em vez de ser um sujeito com um dom de ver os espíritos? Enfim, a que custo deixar muitos fãs da HQ chateados e decepcionados, se boa parte dessas mudanças não fariam diferença pro público leigo?
É isso. Quem aí tá pronto pra ver, achar massa e odiar Sin City?
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