Tuesday, April 05, 2005

Os bons e velhos novos... Titãs.

No início era o verbo. Depois os X-Men. E logo depois os Novos Titãs. E assim virei leitor de quadrinhos de super-heróis.

Eu não lembro em detalhes como começou. Eu recebia quase todo mês do meu tio um pacote de revistas em quadrinhos de todos os tipos. Quer dizer, de todos os tipos que se encontra em banca de revista até hoje: Mônica, Disney e super-heróis. Lia todos, sem muito critério. Só que eu lia como um passatempo, sabe como é. A história começa, acaba, você vai lanchar e a revista é encostada num canto, isso se não for pro lixo alguns dias depois.

Mas como todo menino que assistiu ao filme do Superman, comecei a prestar mais atenção nos tais super-heróis. Assistia aos Superamigos e tal. Passava aqueles desenhos engessados da Marvel e tal. Mas até então, tudo ainda era muito fútil. Eu não tinha personagem favorito. Eu criei uma bobagem na minha cabeça de pudim de que o herói mais legal deveria ser o Lanterna Verde* e o Nuclear**, porque os poderes deles permitiam ter o objeto que quisessem. Algo meio Jeannie é um gênio. Tipo, um boneco do He-Man ou um Baton Garoto, puft! Não precisavam pedir dinheiro à mãe para satisfazer qualquer desejo que eles quisessem. Quer dizer, isso era mera desculpa: eu desejava ter o poder deles para alimentar meus mimos de pirraia.

(* Para leigos 1: O anel do Lanterna Verde obedece à força de vontade de seu usuário, permitindo que ele crie qualquer objeto, com o tamanho que quiser, criado com uma energia verde. ** Para leigos 2: O Nuclear tem o poder de alterar as propriedades moleculares de qualquer coisa: tipo, poderia transformar o oxigênio do ar de um determinado local em um motel cinco estrelas. Algo bem prático.)

Enfim, com o tempo, senti que o herói mais legal não era necessariamente o mais poderoso, ou o com poderes mais versáteis. Pra haver uma boa história de heróis, é preciso que estes sejam, acima de tudo, carismáticos. Aprendi a lição com os X-Men e com os Novos Titãs.

Leigo pergunta: "ok, os X-Men é aquele pessoal que tem o Wolverine e que tem desenho e filme e tal. Mas que porra são esses Novos Titãs? Entraram novos músicos no lugar de Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer e Nando Reis, é isso?"

No início era o Robin. O primeiro ajudante de super-herói pentelho, cuja categoria ganhou até nome próprio: sidekick. Depois os editores da DC Comics inventaram de criar mais sidekicks dos heróis clássicos: a Mulher-Maravilha ganhou uma irmã adotiva, a Moça-Maravilha; o sobrinho de Barry Allen (Flash), se tornou o Kid Flash; o Arqueiro Verde ensinou suas flechadas ao um rapaz de codinome Ricardito; e o mini-Aquaman se chamava Aqualad. Essa gangue resolveu brincar de equipe de super-herói: juntos formavam os Teen Titans, que no Brasil foram rebatizados como a Turma Titã. Uma idéia aparentemente bem tabacuda que não iria muito longe, até dois senhores chamados Marv Wolfman e George Perez chegarem para alterar os rumos da história, em meados de 1980.

Como Wolfman detestava esse conceito do sidekick subserviente ao herói adulto e totalmente desprovido de personalidade, ofereceu aos editores da DC uma proposta para remodelar o grupelho. Alguns personagens ficariam, mas com um novo perfil. Outros novos surgiriam. Todos eles teriam em comum um histórico de conflito de gerações entre eles e seus pais e/ou mentores. Seriam, em suma, rebeldes e impetuosos, além de um tanto poderosos. Finalmente uma equipe de adolescentes se comportando como adolescentes de verdade. Eles se tornaram os NEW Teen Titans, que no Brasil ganhou uma das traduções mais cool desde sempre: os Novos Titãs. Era o início de um mito.

Permaneceram na equipe o líder Robin (o primeirão, Dick Grayson, já em uma fase de grito de independência em relação a Batman), Moça-Maravilha (Donna Troy, cujo uniforme vermelho era muito mais foda que o de Diana) e Kid Flash (Wally West, o mais chato da equipe, na minha opinião, mas tinha lá o seu valor). Ambos tinham habilidades similares aos de seus mentores: inteligência e agilidade; superforça, laço e poder de vôo; e supervelocidade, respectivamente. Os novos membros eram Cyborg, um ex-atleta que por causa de um acidente recebeu poderosos implantes metálicos em metade de seu corpo; Ravena, filha de uma humana e um demônio extradimensional, com poderes empáticos (controle sobre as emoções e dores humanas) e de teleporte; Mutano, um obscuro personagem da Patrulha do Destino, remodelado por Wolfman, era capaz de se transformar em qualquer animal; e a mais cool de todas: Estelar, uma maravilhosa princesa alienígena que voa e dispara rajadas energéticas capazes de derrubar prédios.

Já deu pra notar que um dos maiores trunfos dos Novos Titãs era a diversidade. Ponto para a esperteza de Wolfman, que não variou só os poderes, mas suas personalidades. Victor Stone, o Cyborg, era um negão furioso com o pai cientista, responsável pela decisão de salvar a vida do filho mas o condenando a ser meio homem meio máquina para sempre. Garfield Logan (Mutano) era o piadista da equipe, mas suas pilhérias tinham outra função: protegiam Gar da dor de relembrar a morte precoce de seus pais. Kid Flash era um sujeito meio esquisito que tinha um certo desprezo pelo status de super-herói; ele se preocupava mais em terminar a faculdade do que salvar o mundo.

Já as mulheres não ficavam atrás. Ravena era misteriosíssima: serena, falava pouco e não falava muito de si porque tinha medo de se descontrolar e revelar o grande mal que herdou do pai demônio. Koriander, a princesa alienígena Estelar, foi educada como uma guerreira, mas paradoxalmente tinha um grande potencial para amar as pessoas. E Donna Troy, a Moça-Maravilha, era o ponto de equilíbrio: apesar de também ter recebido lições de guerra das amazonas, era talvez a mais ponderada de todo o grupo.

Last but not least, Robin lutava constantemente entre a racionalidade ensinada por Batman e uma urgência furiosa de mostrar seu próprio valor. E justiça seja feita, Dick Grayson provou definitivamente nos Titãs que Robin, o personagem, era muito superior às gracinhas pejorativas que sofreu por parte dos leitores xiitas ao longo dos anos.

Marv Wolfman roteirizou os Novos Titãs por 16 anos, um verdadeiro recorde na DC. Nos seus primeiros anos, o grupo foi um sucesso comercial isto pouquíssimas vezes na casa do Super-Homem. Por terem despontado quase na mesma época, viraram a resposta editorial da DC aos X-Men da Marvel. Mas a comparação procedia: além de serem equipes adolescentes, ambas foram roteirizadas por um longo tempo pela mesma pessoa (no caso dos mutantes, Chris Claremont). E por isso, quando as duas editoras produziram seus primeiros crossovers (personagens de diferentes editoras em uma mesma história), a união X-Men/Novos Titãs foi óbvia. Essa revista, roteirizada por Chris Claremont e desenhada por Walt Simonson, foi um marco da minha infância.

Voltando aos Titãs, as tramas fizeram sucesso junto ao público dos X-Men (meu caso, portanto) por conterem o mesmo nível de ação e conflitos de personagens que Claremont levava a Ciclope & cia. Até mesmo os lances amorosos: se os X-Men tinham o casal Ciclope/Jean Grey, os Titãs tinham Robin/Estelar. Mas os jovens da DC possuíam ainda mais uma imensa vantagem em relação aos rivais: os desenhos espetaculares de George Perez, um dos maiores desenhistas de superequipes de todos os tempos. Quando você ver o enorme cabelo cuidadosamente encaracolado de Estelar ou os mínimos detalhes robóticos dos braços de Cyborg, não esqueça que a culpa é do megadetalhista George Perez. Salve. Foi uma época feliz, que durou mais ou menos uns cinco anos. George Perez saiu, entraram novos membros, Robin virou o Asa Noturna, Kid Flash virou o Flash e a coisa desandou. Mas os primeiros cinco anos foram bárbaros.

O que eu poderia dizer mais das histórias sem descrevê-las? E se, em vez disso, eu parasse logo de enrolar e sugerir a você comprar o Grandes Clássicos DC - Volume 1 - Os Novos Titãs, compilação da Panini das primeiras histórias do grupo? Se você chegou até aqui e ainda não se convenceu, sugiro ir à banca, abrir a revista no texto introdutório de autoria do próprio Marv Wolfman e lê-lo, o qual diz porque os Titãs se tornaram tão populares e porque ele gostou tanto de trabalhar com esses personagens.

São apenas duas páginas, mas o tal texto vale os vinte paus da revista. Eu prometo.

P.S.: Se você assiste ao Cartoon Network e sua única referência dos Titãs é aquele desenho RIDÍCULO que passa atualmente, por favor, peço que apague aquilo da sua memória.

P.S.2: Recentemente a equipe foi reformulada. O atual roteirista, Geoff Johns, está tentando trazer de volta o espírito anos 80 do grupo, e até que está se saindo bem. Não vai conseguir se equiparar aos tempos áureos, mas pelo menos está divertido.
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