Sunday, August 22, 2004

Viva La Resistance!

Quino deveria ser o homem responsável pelo desenvolvimento do Mercosul. Além de ter a consciência política necessária para perceber que a união da América do Sul ainda é uma piada (fato que pode lhe render muitas charges), ele é o único argentino que eu conheço que é unanimidade. Maradona? Pff... Astor Piazzola? É, vá lá...

Tive a oportunidade de ler dois dos álbuns de charges lançados recentemente no Brasil pela editora Martins Fontes. Bem, Obrigado. E Você? trata mais das pequenas e grandes idiossincracias do ser humano, ao passo que Quanta Bondade! analisa os conceitos distorcidos da sociedade, no que se refere a praticar o "bem".

Na verdade, os dois álbuns são bem parecidos. Se você os ler seguidos um do outro, como eu fiz, vai entender isso na prática. Neles, Quino mostra com quantos nanquins se faz um chargista. Cada página é um tapa na cara daqueles bem dados. Cada risada que você dá é como um arame farpado arranhando um pedaço do teu cérebro. A especialidade do cara é mostrar, através de metáforas práticas rigidamente selecionadas, como e porque a humanidade é tão estúpida.

Exemplo 1: uma cerimônia solene já começou com o tapete vermelho estendido, mas ao mesmo tempo, na outra extremidade, um sujeito vai terminando de costurar o tal tapete. Exemplo 2: um cara acorda ao lado da esposa na madrugada, querendo engatar uma discussão ed relacionamento. No final, ele pergunta algo como "E aí, Isaura, o que você acha?" e ela o soca, furiosa: "INÊS!!" Em diversos momentos, me lembrou MUITO o humor de Henfil.

Outras características marcantes dos álbuns são o domínio de linguagem e a versatilidade do autor. Aqui ele prova definitivamente que não é apenas o "cara que fazia a Mafalda" (como se isso fosse pouca coisa - e não é!). De um modo geral, as charges de Quino são bem satíricas, mas algumas delas são meio direcionadas à realidade argentina, enquanto outras possuem caráter mais universal. Mas tem certos casos que são pura poesia, como a do trator que flutua no céu e um fazendeiro embaixo responde: "ô rapaz, pára de ficar sonhando!" ou coisa do tipo.

Essas coletâneas de Quino são feitas sob medida para reler algumas e algumas vezes. Sempre dá pra captar algum detalhe que passou despercebido ou reforçar na memória o sentido daquela mensagem. Fazer um humor gráfico tão refinado assim não é pra qualquer um. Mas felizmente, Quino não é qualquer um.

Thursday, August 19, 2004

Por quê, Alan Moore??

Em 1990, o Faith No More lançou o disco The Real Thing, que foi um sucesso em tudo que era rádio FM. Aí veio a turnê pelo mundo, Mike Patton & cia. perderam no Rock In Rio II o pouco juízo que tinham e o disco seguinte, Angel Dust, foi a negação de tudo que público e crítica esperavam deles. Chutaram o balde. Coisa parecida fez o Los Hermanos em 2001, quando o segundo disco, Bloco do Eu Sozinho, desfez e refez todos os fã-clubes da "banda da 'Anna Julia'".

Foi mais ou menos isso que eu senti quando li o segundo volume da Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O'Neill.

Tá boiando? Eu explico.

Em mais uma de suas idéias de gênio, Alan Moore jogou fora tudo que se imaginava em equipes de super-heróis e resolveu criar um grupo formado por alguns dos maiores ícones da literatura fantástica: Mina Murray (a mocinha de Drácula), Allan Quatermain (As Minas do Rei Salomão), Capitão Nemo (20.000 Léguas Submarinas), Hawley Griffin (O Homem Invisível) e Dr. Jekyll/Sr. Hyde (O Médico e o Monstro).

Nenhum deles obedece ao arquétipo do herói perfeito. Pelo contrário, cada um deles tem seus pequenos ou grandes defeitos e especialidades. Mina é a líder e cérebro, porém é autoritária e fria. Quatermain ainda é bom de briga, mas é viciado em ópio. Nemo nunca foge dos desafios e está sempre bem equipado, mas às vezes é impetuoso e obcecado. Griffin é invisível, amoral e muito imprevisível. O fraco Jekyll é tão inútil quanto Hyde é demasiadamente forte e selvagem.

Em comum, todos eram - e ainda são - personagens clássicos que surgiram praticamente na mesma época: a Europa do século 19. E é nessa época - meados de 1888 - em que as aventuras da Liga se passam. Como bom pesquisador e escritor que é, Moore pinta e borda nas referências à literatura, política e história da Inglaterra Vitoriana. Mas nem isso faz da Liga Extraordinária uma leitura só pra iniciados. Como nos filmes de Tarantino, as referências estão lá pra quem as conhece, mas o roteiro é simples o bastante para agradar por si só o leitor, leigo ou não.

No volume 1, lançado em meados de 1999-2000, o grupo é reunido pela Coroa Britânica para enfrentar um plano que representava uma ameaça à nação, e talvez para todo o mundo. Foram selecionados justamente por serem indivíduos à margem da sociedade, mas cujos poderes e habilidades os fariam capazes de aceitar o risco. Neste volume 2, a mesma Liga é novamente convocada para enfrentar algo ainda maior: uma invasão marciana - exato, é A Guerra dos Mundos de H. G. Wells revisitada.

Animado que estava para ler, imaginava algo no mesmo estilo "aventura" do volume 1. Oh, coitado de mim! Mesmo tendo tantas obras de Alan Moore antes, eu ainda não tinha aprendido a lição: o barbudo nunca repete a mesma fórmula. O choque foi inevitável.

Não querendo adiantar muito da história, mas tudo de mais radical acontece. Eu disse TUDO! Traições, vinganças, reviravoltas, mortes antológicas. Não sobra pedra sobre pedra. Ao final da leitura, fiquei sem reação. Como assim, acabou-se daquele jeito? Como é que Alan Moore faz isso comigo? Por que a história ficou tão do caralho, mas ainda assim eu estava triste pela forma que terminou? Por que eu me apeguei aos personagens? Por que Kevin O'Neill é tão foda nos desenhos? Por que as novas referências são tão legais? Por quê, por quê, por quê??

É foda.

P.S.: A edição brasileira da Devir está excelente.

I'm back!

De alguma coisa serviu a minha convalescência atual: conseguir tempo pra inaugurar essa bagaça aqui.

Eu achei tão boa a experiência de escrever artigos sobre quadrinhos no finado Sete Dias que não queria abdicar dela só porque o referido blog acabou. Aí criei este blog aqui. Já faz alguns meses, na verdade. Mas eu queria arrumar a casa antes de inaugurá-la. Sim, os ícones acima também faziam parte da empreitada. Falando nisso: gostaram? Ficou bonito? As editoras que são donas dos personagens podem me processar por isso?

Além de ser nome de emissora de TV, Excelsior é o bordão que Stan Lee (co-criador, ao lado de Jack Kirby, de muitos dos maiores heróis da Marvel) lançava mão no final de seus artigos e cartas ao leitor. A palavra em si não tem uma definição lógica, mas aparentemente só servia pra criar um impacto sonoro repentino - notem a exclamação no final.

Pronto. Terminado o protocolo, voltemos à nossa programação normal. Enquanto eu termino este post, já vou pensando na primeira pauta do novo blog.

(...)

Vai ser isso. O resultado tá aí em cima.
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